Resenha: "Kafka e a boneca viajante" de Jordi Sierra i Fabra

Editora:  Martins Fontes

ISBN: 9788599102862

Página: 127

Sinopse: "Um ano antes de sua morte, Franz Kafka viveu uma experiência singular. Passeando pelo parque de Steglitz, em Berlim, encontrou uma menina chorando porque havia perdido sua boneca. Para acalmar a garotinha, inventou uma história: a boneca não estava perdida, mas viajara, e ele, um "carteiro de bonecas", tinha uma carta em seu poder que lhe entregaria no dia seguinte. Naquela noite, ele escreveu a primeira de muitas cartas que, durante três semanas, entregou pontualmente à menina, narrando as peripécias da boneca em todos os cantos do mundo. Inspirado por esta história pouco conhecida de Kafka, contada por Dora Diamant, companheira do escritor na época, Jordi Sierra i Fabra recria as cartas nunca encontradas e que constituem um dos mistérios mais belos da narrativa do século XX."

A primeira coisa que me chamou atenção nesse livro foi seu título peculiar. Quem já leu alguma obra do Kafka, como "O Castelo" ou "O Processo", certamente nunca imaginariam o autor com uma boneca de pano a tira colo.
Já fisgada, peguei o livro e senti toda aquela expectativa escorrer pelo meu braço. O livro era ridiculamente fino! Tento não ter preconceitos literários, mas o único que eu admito possuir é contra livros com uma premissa elabora, mas com poucas página. Pelo simples fato de acreditar que é muito difícil para um autor(a) dar conta de elaborar plenamente os conflitos de um história complexa de uma forma tão sintética.
Entretanto, como uma amiga minha já havia lido esse livro e jurou de pé junto que não havia nada para temer, resolvi embarcar na leitura. Li as primeiras páginas muito rapidamente, mas pelo meio da história, peguei-me demorando mais em cada palavra, pois não queria que ele chegasse ao fim.

A história é muito bem resolvida,  porém acaba rápido deixando aquela sensação de "Mas já?"

As pessoas que acham que a rotina é sempre igual, são aquelas cujos os olhos já estão viciados para o mundo, mesmo que repita suas tarefas durante todos os dias se prestar um pouco mais de atenção, vai perceber que os eventos jamais acontecem da mesma forma e a riqueza dos momentos está nos detalhes. E, naquela tarde, Kafka percebeu algo que não via há muito tempo uma menina chorando no parque. Ele nunca fora bom com crianças, mas, contra qualquer expectativa, ao socorro daquela alma incosolável. Apesar de alguns tropeços iniciais, Kakfa consegue estabelecer um discurso com a menina que revela ter perdido sua amada boneca Brígida naquela manhã.
 Em um pensamento rápido, Kafka diz que a boneca em questão não estava perdida, mas viajara, e ele, um "carteiro de bonecas", tinha uma carta em seu poder que lhe entregaria no dia seguinte. Naquela noite, ele escreveu a primeira de muitas cartas que entregara a menina narrando as peripécias da boneca por todas as partes do globo.
Algo que começou como uma relação inusitada acaba virando uma jornada de aprendizado para os dois personagens. As viagens de Brígida tornam possíveis para Kafka escapar das limitações territoriais que sua doença impunha para ele. Graças aquelas cartas, ele podia viajar novamente. Enquanto a menina está tendo seu primeiro contato com sentimento comuns do amadurecimento - Perda, amizade, lealdade, descoberta...

Em, mais ou menos, 3 semans Brígida proporciona para eles viagens incríveis sem sair daquela mesma praça de Berlim.

A elaboração do texto é tão singela e delicada, cada página que passa é uma delícia. É uma história muito emocionante, mas não é daquele tipo que te deixa com o coração na mão e chorando que nem a menina no começo do livro. Ao terminar a leitura, ela deixa aquela sensação gostosa de estar embalado no seu edredom preferido em uma noite fria.
Vale a pena ressaltar que a história foi baseada no relato de Dora Dymant, a parceira de Kafka na época - ou seja, esse episódio verdadeiramente aconteceu na vida de Kafka - mas as cartas, os diálogos e o final da história foram todos pensados pela autora.
Infelizmente, as cartas originais escritas por Kafka (Brígida) nunca foram encontradas.

Nível de Fangirl:

Por que esse tipo de história nunca acontecendo comigo?

Beijos
Fê